As palavras que não foram escritas nem ditas
Sinto falta das palavras que não foram para o papel
Sumiram, se desfizeram como desenhos de nuvens no céu
Sementes que não vingaram
Peças soltas que não se encaixaram.
Vãos souvenires do silêncio e da dor
Aquarela vazia, paisagem sem cor
Recuo inexplicável no final do caminho
Lágrima fugidia de quem ficou sozinho.
Construção inacabada
Mensagem velada que morreu calada
Mágoa aprisionada
Lenta e sofrida madrugada.
Ave migratória que voa sem destino
Inseguro e tímido coração de menino
Inconsciente medo da vitória
Impossibilidade de lidar com os louros da glória.
Amantes que tiveram medo de amar
Barcos à deriva que optaram por não aportar
No porto, lenços brancos em espera eterna
Tesouro escondido no fundo da caverna.
Oráculo que se recusa a preconizar
Flor que não se permite desabrochar
Verso oculto sem rimar
Mito esquecido sem se perpetuar.
Fenece lentamente e mudo o que você deveria saber
Aborta o sonho impossibilitado de viver.
Minha boca guarda o que deveria declamar
Agoniza ferido o desejo de amar.