Perfume da Memória

— Como poderei eu sonhar

em fazer chegar até ti

esta doce flor campestre

que colhi na dura roça?

— Porque insiste rapazola?

Não posso! Não devo!

Mas sobe até ao cume…tenta!

…como o velho pardal que

poisou nos ramos que cobrem,

a janela que me aprisiona longe

do bosque, do mar da constelação.

— Não tenhas medo… serei fidalgo!

E farei chegar a ti o perfume desta flor

até o teu coração me reconhecer como tal.

Mesmo sabendo que anunciará a morte

tamanha imprudência!

— Não tenho medo!

Os meus lábios tremem de saudade,

saudade de um perfume que nunca

senti para além da solidão…

As lágrimas de prata dos meus olhos,

é dote que pago à minha realeza doentia!

Nos meus dedos corre o sangue

para oferecer à noite.

— Vejo-as! Ah como brilham!

São estrelas meu amor?

Também as escuto no rumor da água

empurrada pelo vento!

— Tu és a água e o vento

eu a estrela das minhas lágrimas.

— Cala-te..chega!

Dói-me a distância do fosso do castelo!

Dói-me o pássaro ter morrido!

Dói-me as folhas crescerem no ramo!

Amo-te.

Amo-te.

Recebe esta doce flor da roça…

onde apenas resta o perfume da memória …

…do vento…do mar e das estrelas.

Febo
Enviado por Febo em 28/11/2017
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