Nas tristes andanças de homem perdido
Nas tristes andanças de homem perdido
apanhei do chão o espelho rachado
e olhei-o, olhei-me, avistei um pecado,
olhos molharam o caminho sofrido...
Permitiram natureza e destino
minha visão de avistar ao meu lado
todo o vazio invisível parado
como um gigante silêncio despido...
E diante dele, também eu pelado,
gritei: "Ó dai-me um abraço de amigo!"
Chorei ao espelho e ao falso gigante,
permanecia a imagem rachada,
arremessei-o, tamanha era a raiva,
e me vi quebrar num rápido instante...
Mil cacos de vidro, um berro sonante,
no asfalto queimado; o mesmo que nada;
em pó me tornei, ventei da calçada,
chegara ao limite o peito pulsante...
Mas a poça de dolência molhada
teimava o martírio debilitante...
Era a saudade: não tê-la por perto,
minha metade mulher e armadura,
fragilizava-me, e a dor da loucura
eram grilhões no sofrido deserto...
Somente o amor dela pode liberto
fazer-me, e feliz sorrir sem paúra!
No mundo, certeza, minha aventura
tem de ser compartilhando o reflexo
com a pessoa que traz paz e, pura,
graciosamente me faz ser completo.
24/11/2017