De novo
Observo o sol da meia-noite,
sem ter conseguido dizer Adeus,
lanço ao mar as máscaras que usei,
mostro meu rosto cheio de cicatrizes,
marcas de uma guerra infinita,
dores mal curadas da existência,
uma fera no corpo de um anjo caído...
E você é a única que carrego comigo,
é a única que mantêm minha sanidade,
é a única que me deixa mais humano,
é a única que ainda me faz sorrir,
quando o mundo parece desabar,
de novo...
Ando com as mãos nos bolsos,
suportando o frio que congela minha alma,
procurando o verde de seus olhos,
o único espelho que mostrou minhas verdades,
meu portal para um céu de estrelas noturnas,
brilho de regeneração em uma espada já cega,
afiando o corte para novas batalhas pelo mundo...
E você é a única que está dentro de mim,
é a única que conserva minha saudade,
é a única que me faz mais sensível,
é a única que tocou minha fragilidade,
quando o céu turvou-se de cinza chumbo,
de novo...
Respiro a brisa de uma manhã triste,
perfume de um tempo passado,
fito meus pés em cada passo indeciso,
equilibrando-se sob fios invisíveis,
tentando o voo dos arautos sem asa,
na beira de precipícios cotidianos,
para perder-me no universo dos sonhadores...
E você é a única que me faz ouvir música,
é a única que afina a melodia do meu coração,
é a única que me abraça nos invernos do espírito,
é a única que me deixa seguro sob a tempestade,
quando raios e trovões evocam destruição,
de novo...