Tanto a-mar
É tanto amor que tenho que começo a desmanchar...
Assim como uma massa de modelar na mão de uma criança.
Esse amor, de tão forte, anseia por sair do corpo correndo,
como um atleta apressado, mas não corre, fica!
E fica aqui, contido, balançando para frente e para trás...
É justamente isso que faz mover o coração que nada mais é
do que o amor batendo, querendo sair do corpo e não podendo.
Bate na porta do corpo e este, trancado, se fecha.
Mas é tanto amor querendo sair que ele então encontra uma brecha,
duas janelas nesse mundo tão fechado.
E o amor vai saindo em forma lacrimal descendo até chegar na boca
e ao entrar nela provoca o gosto salgado.
Isso aguça ainda mais a certeza... Sim, eu devo ter vindo do mar, salgado, forte e leve.
Vai e fica ele também... e às vezes somos um só num só movimento...
Feitos de águas e ventos a se misturar.
Ao longe o vejo bater no peito do mundo e logo penso:
O mar também deve amar e, por tanto amor que tem,
difícil seria manter-se em paz e, indo e vindo acaba se tornando forte demais.
Inunda vilas inteiras, casas costeiras e depois
paira calminho... como se nada ali viesse a passar e
se oferece quieto para a criança fincar seu baldinho na areia e
molhar somente a ponta dos pés.
É tanto amor que tenho que... falta o ar, sobra o mar e me faz a-mar.