ACRASIA
Não haviam portas, não haviam chaves,
E quem poderia explicar a prisão aberta,
Da mente liberta da mentira e no medo acorrentada,
E as formas se ausentavam, plataformas em branco se erigiam,
Cores cansadas de um céu que lentamente chovia,
E formava um lago de mágoas,
Circo de nós na garganta e água salgada,
Pela janela o tempo que parecia fotografia,
Sem vento, sem cheiro e imagens vazias,
O coração floresta devastada,
Deserto que aos rumores do vento sangrava,
E a vida desistia de si mesma,
Virando as costas para o amanhã,
Se envenenando nas dores de seu passado.
Não haviam portas, não haviam chaves,
E como o feto sai para a vida sem escolher,
Tal qual a morte ceifa sem avisar,
A cura das dores é praia após trovoada,
Amor que enquadra a pintura outrora abandonada,
Transborda o espírito de cores jamais pintadas,
E a alma no medo acorrentada escorrega pelas águas,
Razão despedaçada pela acrasia do peito,
E não se poupa aos efeitos de novamente arriscar,
O escuro vira terra de flores,
Que clareia os olhos que se voltam novamente ao amanhã,
Longe de qualquer certeza, mas livre para voar,
E assim você agita e acalma, arrepia e aquece,
Antidoto que no beijo me fez curar.