BRILHA A LUA
Brilha a lua enquanto as trevas envolvem os temores da noite,
Brilha a lua e os cães uivam na esquina a sinfonia do abandono,
Como se fosse uma taça que se brinda a melancolia,
Como se ouve um piano na solidão de um velório,
Onde a vida é mais uma e o ouro não vale nada.
Brilha a lua e sua luz difusa, pálida, revela vultos sem clarear,
Sinuosidades de assombros ao fio de sua luz,
Que à turbidez dos olhos exprime os transtornos da escuridão,
Onde em meio as memórias a luz não habita,
Onde o existir evapora-se em quimeras.
Brilha a lua em seu concerto de solidão,
E quem sabe ao longe algumas estrelas podem aplaudir,
Sem som canta em acordes mudos enquanto desenha o céu,
E seu choro sereno molha a relva,
Onde os pés cansados caminhavam sozinho contemplando a lua.
Brilha a lua sua miséria de refletir o que do sol lhe é mendigado,
Para clarear os temores de quem à noite regala os pensamentos ao céu,
Sem disfarces, escancarando o que o sol não desvendou,
Rasgando o véu dos limites, concedendo o frio da luz prateada,
Onde ao oeste se espera o adeus de sua serenata.
Brilha a lua aos que choram e aos que sorriem,
Aos que dormem e aos que não conseguem dormir,
Brilha a lua aos que amam e aos que foram desiludidos,
A lua sozinha, calada, em sua fria luz testemunha,
Mas não pode revelar que a cada final que mingua, há uma nova ascendendo um recomeçar.