Mosaico
Eu tenho uma teoria
Corações nunca se quebram sozinhos
Surge sempre outros cacos que antes não existiam
As palhas mais duras para se construir um ninho
Cada pedaço se torna entulho
Se for deixado de lado
Vão se acumulando em um só embrulho
Até o espaço embaixo do tapete estar esgotado
O que se faz com um coração partido?
O que se faz com todos os planos que não vingaram?
O que se faz com as declarações de um amor desmedido?
O que se faz com as fotos que restaram?
São coisas que não podem ser apagadas
Luzes que não se deixam ser esquecidas
Rastros nas pedras das estradas
Verdades de validades vencidas
Um coração quebrado tem pouca utilidade
Nem amar consegue direito
Caco por caco, cai conforme a gravidade
Deixando um assustador vazio no peito
De repente um luto é imposto
Negar, negociar, enfurecer, deprimir até enfim aceitar
Aceitar que tudo será lentamente decomposto
Para que outra flor possa brotar
É uma árdua jornada
Você começa a pensar que não consegue
Mas repetindo sempre a mesma versada
Vida que segue, vida que segue
Só que nada vai seguir
Até que você saiba o que realmente precisa fazer
Começar a viver e a sorrir
A superar todas as coisas que vão aparecer
É normal se cortar ao manusear os pedaços
Leva um tempo até tomar cuidado
Dá trabalho reorganizar os espaços
Parece demorar uma eternidade ver tudo colado
No meio desse processo
Muitas coisas boas nascerão
Outras ruins terão regresso
E vai se formando um outro coração
A casca do mais antigo
De pedaços, colorido e prosaico
Deixa de ser algo a representar perigo
E na estante da vida, é apenas mais um mosaico...