À deriva

Sem o Norte que gostaria,

Mais ao Sul do que imaginara.

Um instante, um momento,

uma saudade cor de rosa dos ventos.

Tempos perdidos em vários anseios.

Tudo abstrato, nada concreto:

tesouro perdido, enterrado, incompleto.

Adição de incertezas, aflição de desejos.

Efêmera espera que me aborrece,

me consome, me angustia, me enlouquece.

Do baú das lembranças esquecidas

vasculho em vão Palavras de alento.

Dor e sofrer são alimentos da alma.

De tempero: tomilho e tormento.

Naufragado ao passado, ancorado no tempo.

Preciso fugir, navegar, correr, sair, escapar.

Nada me resta senão atracar. Mas aonde?

Estou fraco e abatido, cansado e iludido.

Sonhando com a utopia de uma esperança fúnebre.

Pulsos ilesos, pelo menos por enquanto.

E se o infinito do horizonte não for suficiente?

Navego há tempos num mar de dúvidas.

Os remos já deixei para trás.

À deriva me encontro:

pálido, enjoado, sujo salgado de lágrimas.

Lamentando a boiar distante do cais

com vaga esperança de terra firme.

Maldita pirata!

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Obs: Poema selecionado em 1º lugar para compor o lançamento nacional da Revista Inversos.

RAFAEL CAPUTO
Enviado por RAFAEL CAPUTO em 25/09/2017
Código do texto: T6124365
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