SOLENE FINAL
Por quantas vezes nosso mundo acabou,
E não tivemos com ele um solene final,
Por quantas vezes assistimos nossa morte e nosso renascer,
Sem chance de negar a nós mesmos,
Feito Fênix que após queimar volta a bater suas asas,
Transitando entre os limites da vida e da morte,
Somos grãos de areia carregados ao vento,
E nunca sabemos que vento irá soprar,
Medo, expectativa, ansiedade, inquietação,
Para que servem as teorias se somos uma constante transformação,
Revolução, evolução, freneticamente em busca dos elos não formados do amanhã,
Sem notar que com as próprias mãos quebramos os que hoje estavam laçados,
Que amores são estes que nos deixaram à beira-mar,
Como as conchas quebradas, pisoteadas até virar areia,
Que amores eram aqueles, inconsistentes e dissimulados,
Sem compaixão, atordoados, desmazelados,
Que amor negligencia o coração,
E o afoga nas águas do abandono?
Não...
O amor é tão transparente feito a água,
Você saberá mesmo que não seja dito,
Amor calado, amor demonstrado,
Vai romper as veias e desaguar em um olhar,
Essa enxurrada não será contida,
As águas da represa irão se libertar,
Nos abraços um casulo de proteção,
Forte e sensível, cauteloso e benigno,
E seremos resgatados do fim de nossos mundos,
Logo ali sentiremos o amor,
E o coração vai se alegrar ao som deste amor,
No timbre de sua voz,
Ao vento de sua respiração,
Como se um furacão pudesse ser tormento e paz em si mesmo,
Ao dizer eu te amo,
Te amando com o espírito,
Te amando com a alma,
Te amando com o corpo,
Te amando por inteiro.