FEBRE
Quando criança, tive febre.
Fiquei muito tempo ao leito,
coberto com couro de lebre
desde os pés até ao peito.
E na minha triste ânsia
não vi o tempo passar.
Pois a minha criança
não podia se acordar.
Agora que posso os olhos abrir
para o mundo enxergar,
não vejo motivos para sorrir,
pois sinto a velhice chegar.
Minhas pernas não se movem.
Minhas mãos tremulam.
E o que mais me comove
são as perguntas que formulam.
A respeito da minha pessoa,
que, triste e abatida,
nunca e jamais de você caçoa
por você ser uma perdida
que eu amei profundamente
no delírio da febre que ardia,
enquanto eu a procurava loucamente
num sonho que eu jamais realizaria.
Nova Serrana (MG), 10 de abril de 1986.