FEBRE

Quando criança, tive febre.

Fiquei muito tempo ao leito,

coberto com couro de lebre

desde os pés até ao peito.

E na minha triste ânsia

não vi o tempo passar.

Pois a minha criança

não podia se acordar.

Agora que posso os olhos abrir

para o mundo enxergar,

não vejo motivos para sorrir,

pois sinto a velhice chegar.

Minhas pernas não se movem.

Minhas mãos tremulam.

E o que mais me comove

são as perguntas que formulam.

A respeito da minha pessoa,

que, triste e abatida,

nunca e jamais de você caçoa

por você ser uma perdida

que eu amei profundamente

no delírio da febre que ardia,

enquanto eu a procurava loucamente

num sonho que eu jamais realizaria.

Nova Serrana (MG), 10 de abril de 1986.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 04/09/2017
Código do texto: T6104590
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