OS SEGREDOS

Não conheceria os segredos dos ventos,

Se buscasse o perfume nas flores artificiais,

Não conheceria os segredos das ondas,

Se ficasse sentado à beira da praia,

E não visse que entre as dobraduras da folha,

O destino transformou o avião de papel em um pequeno barco,

Que tremendo afundou, antes que em seu porto chegasse,

Não conheceria os segredos do coração,

Se fugisse do caminho de pedras,

Sem entender que os percursos da água também haviam barreiras,

Antes que a superfície deixasse deslizar a carícia da brisa,

Para após despejar na imensidão do mar, e quiçá sejam assim as histórias de amor.

E para que viveria um homem que não se arranhou nos espinhos,

E para que viveria um homem que não se arriscou chegar antes da chuva cair e se molhou,

E para que viveria um homem que não compreendeu que o orgulho era o mapa do nada,

E para que viveria um homem que nunca soube ser chave aos segredos de um coração.

Não conheceria os segredos das constelações,

Se impaciente não aprendesse o nome da cada estrela que brilhava,

Não conheceria os segredos das cicatrizes,

Se ignorasse a história de cada lágrima derramada,

Que caiam feito chuva de verão,

Quando a alma em trovoadas, cantava suas tempestades,

Precipitando seus lamentos, até que dentre as nuvens o céu azul rasgasse em suspiro,

Não conheceria os segredos da própria existência sem perceber que cada fim é um começo,

Se não perdoasse os próprios equívocos,

E de olhos fechados fizesse o percurso,

Sem notar que a primavera se levantaria,

E ainda nasceria uma flor.