COMBALIDO CORAÇÃO

Rasguei-me inteiro, e do avesso eu senti esvair-me ao nada,

Eram os pensamentos subindo em vapor fugaz,

Queimei os dedos nos olhos dos mudos que não sabiam ouvir,

Em seus espelhos superestimavam a si mesmos,

E eu com a pele rosada pela cólera,

Abafava meus gritos, transformava-os em gemidos,

Me escondia sob pó que cobria o chão,

E eles que caminhavam desordenados,

Pisoteavam sem saber,

Que um corpo ali padecia.

Levantei-me juntando os pedaços que o solo amparou,

A grama absorvia o sangue e ficava mais verde,

Rosas de pétalas vermelhas nasceram sobre o sangue carmesim,

Dos retalhos que sobraram sobre a pele,

Fiz meu manto, para dançar sob a luz,

A loucura era minha canção, o desespero meu ritmo,

Dançava escondido, certo de que o vento seria o mesmo até o fim,

Turvava os pensamentos, para não os ver desejando que houvesse alguém como você,

Mas agora você está aqui, e a rosa colheu para sentir seu cheiro,

E os ventos me disseram que você é dono deste combalido coração.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 16/08/2017
Código do texto: T6086073
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