OS DOIS PERDIDOS
A moça tem medo do amor
Já estive em seu lugar.
A moça anda perdida
Sobre quem é,
E olha, eu também,
Semelhante.
A moça é mulher,
E eu homem,
Mas duas crianças na verdade.
Ela disfarça
O amor no medo
Mas a criança dela
Conta tudo, em subjetivo,
Para criança de mim.
Eu? Finjo que não vejo nada,
Mas sei, ela sabe que vejo
E sei que ela vê o mesmo
em mim também.
A gente fala um pro outro:
"Não!"
Mas qual o valor das palavras
Quando os olhos dizem sim?!
O que importam as palavras
Quando nossos sorrisos
Iluminam um ao outro
Como faróis altos
Se encontrando
Na estrada escura da vida?!
Curvas...
O que é o medo
Perto da verdade
De um abraço
Que oculta
O mundo ao redor
E nos entrega o mundo de nós?
Pequeno, quase insignificante.
Ela odeia cheiro de cigarro
Me sinto mal
E ela ainda me beija,
Reclama e me beija.
Ela diz pra eu ir embora
Mas seus gestos gritam:
"Fica!"
E eu?
Fico.
E queria ficar mais...
Me preocupava
Se perderia o ônibus,
Ela percebeu.
Achou que o problema
Era ela
Mas o problema
Era eu.
Eu que conto as horas
Ilusórias da vida,
Persistência calculada.
Me dei conta da tolice,
E pro, parado, coletivo
Nem mais olhava...
Me perdi nesse momento
Em que eu com ela estava,
Aquilo que era a vida
E nada mais importava.
Pois agora ainda estou
Imerso naquele momento
Enquanto o ônibus balança
A poesia além do tempo.
De coletivo vou pra casa
Mas ainda me sinto lá
Embolado nos braços dela,
Só sentindo, sem pensar.
Se falo nem chego perto
Do que queria dizer,
Dois perdidos
Se juntando
Na ginga de se perder.
Se os dias são vazios
A gente pode preencher
De ilusões bem mais bonitas
Das que a gente costuma crer...