PIOLHO CEGO
Corre lentamente o tempo,
no vento frio que sopra,
os cabelos deslizantes,
por entre os dentes pálidos,
do pente fino, em busca do piolho,
que sossegado e sonolento,
vai sugando lentamente,
o sangue que corre da ferida,
aberta no olho cego.
Passa o tempo, pelos cabelos do vento.
Passa a longa dor da angústia,
na vida que se encerra,
em minha querida tia, Augusta.
Vem o frio da ausência
e o desassossego, rouba-me a calma.
Já não tenho mais paciência,
nem mesmo para com o piolho,
que vem sondar minha mente,
em busca de alimento fácil.
Porém, os dentes pálidos do pente,
que o odontologista tenta corrigir,
já não tem mais o mesmo sorriso,
espalhado pelo frio vento.
Pois, com sua ausência,
vejo que em mim, o desejo,
de tocar seu lindo corpo
torna se cada dia maior.
E como um piolho cego,
sigo sozinho meu caminho,
em busca do brilho de seus olhos.
E com o desejo de ser o pente fino,
que ao tocar seus cabelos,
faça lhe mais flexível,
para reconhecer em mim,
o quanto eu a amo.
Nova serrana (MG), 29 de outubro de 2008.