MUITO ALÉM DOS REFLEXOS

Muito além dos reflexos, dos côncavos e convexos,

Adiante em um banheiro esfumaçado,

Somos nossas verdades a refletir,

Dentro de um disfarce que sem confetes faz seu carnaval,

Nos olhos que se veem em suas cores verdadeiras,

Prospectando as tonalidades que desbotaram,

Tingindo-as de tons da aquarela molhada,

Para que o arco-íris não seja tão e tal quanto um céu noturno,

Nem que seja pelo vermelho de algo que as entranhas gritam sem ovacionar,

Para dizer sobre o que além de reflexo se pode ver,

Tudo o que você pode ver, em mim, além do que o espelho mostrou,

Que dos olhos tentam escapar feito animal fugindo do caçador,

E ao mesmo tempo se entrega para que essas garras prendam cada centímetro desse corpo,

Minha destemperança procurando sabor, ansiando equilibrar com mais avidez cada delírio,

Saciar os lábios viciados na procura que se precipita feito chuva de verão,

Em forma e desforme, por você, em você, o não habitável que voltou a habitar,

Em cada encaixe de sua essência, fundido feito ferro no fogo,

Até criar as formas que se limitam a passar nas portas estreitas deste coração,

Para que o mundo e seus redemoinhos não invadam mais por essas passagens,

Para que apenas vente suave a brisa do seu perfume, aroma de sua pele,

E muito além dos reflexos, nós que éramos flor solitária,

Façamos primavera e sejamos nosso jardim de amor.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 31/07/2017
Código do texto: T6070587
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.