INSPIRAÇÃO DO POETA

Hoje não vou escrever sobre as dores e os temores que me trouxeram aqui,

Hoje não cantarei as magoas e tampouco as lágrimas derramadas,

Me aquietarei e permanecerei assim, para que a terra vente seus ventos em silêncio,

E as estrelas brilhem mais forte procurando pela presença que resolveu se ausentar,

Porque tantas palavras, ainda que fossem grãos de areia formariam deserto,

Ainda que fossem gotas d’água transbordariam o mar,

Para que a imensidão fosse tão inútil por quem o amor tenta explicar,

Hoje me calarei para ouvir o som das lembranças,

Ouvir o samba que o coração faz batucar,

Hoje não vou escrever, apenas inspirar,

É que o amor em palavras, é apenas fria definição,

Mas o sentimento arde feito chama,

Transformando o coração em vulcão em erupção,

E nele ninguém pode tocar, a não ser seu autor,

O dono de cada reação, o compositor de suas notas, amar...

Falhei e escrevi, não logrei êxito em me calar,

E aqui vim para dizer que o amor guia em direções não planejadas,

E vicia a alma, e vicia o espírito e vicia o corpo em seus aconchegos,

É o berço da paz, inspiração do poeta,

O amor de tantas formas, explode e acalma,

E se você amado meu me pedisse uma definição do que é o amor,

Ah, se você exigisse de mim proeza tal,

Eu novamente ficaria calado e não escreveria,

Te confrontaria a um espelho, e naquele reflexo minha resposta lhe daria,

E me calaria olhando as cores do meu amor.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 26/07/2017
Código do texto: T6065896
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