Reflexo oposto
Buscai porém todo bem que
há no fim. Vendo-me agora,
finito que sou, não posso
vender-me - Põe-te à venda!
Cego já é se pensas ver o
que quer que vejas sem teus
olhos despir. Belo? Faz-me
rir ou convença-te primeiro.
Nem a conhece. Dizes que amas?
Ou alimentas esta tua criação
ou bebes da beleza; embriaga-te
e sóbrio de ti restará o desamor.
Nem é tua a criação nem dela
é a beleza e, como tudo posto
outrora serás exposto. Encara-
te a frio. Desvenda-te e verás.
Fazes bem porque te agrada e
ao desagrado refuta, pois, o
teu erro fatídico é inclinado
a tua própria conveniência...
Ora és também ingrato e disto,
esquivas a tua precária visão.
É que errante tens esta aversão
ao pecado. E ainda dizes que ama?
Ama apenas a si e te enganas se
dizes ser capaz de amar defeitos.
Ninguém ama os defeitos alheios!
Antes, perdoa. Antes, tolera...
Liberta-te e aceites a liberdade
dela. Conheça-te e conhecendo na
quiçá ames incondicionalmente e
incondicionalmente possas perdoar(-te).
Autor: Augusto Felipe de Gouvêa e Silva.
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