O Cego

o olhar adita brilho ao subsolo d'alma

colhe as flores da palavra que se demora

na alcova do verbo raiz

recolhe a íris dos segundos e

de súbito espalha-se

sob a dormência das horas

o olhar abstrai horizontes

na urgência de calar sonhos

e limitar a voz

com frases ingênuas

sem profanar auroras

a lembrança é labareda

olhando para dentro

da rotina dos dias

- adrenalina - ao trânsito trêmulo

titaqueando as dores de agora

o olhar não basta

a silente poética

que solfeja devas

- chorem as rosas-

desfolhem as horas

o amor é engano

quando vê o que olha.

Denise Reis