FANTASMA DE AMOR
Acordava e via o seu vulto.
Não descansava o tempo inteiro perto de mim
Pregado nos pequenos espaços do cotidiano
Ao lado do guarda-roupa, nas quinas, no sofá,
na retina, no cheiro
o rosto de uma alma que olho.
Sempre me assombro. Para mim é novidade no repetido.
Aprecio cada detalhe de sua aparição.
Se abro os olhos, lá está o fantasma.
Se fecho-os, ainda mais o olho em sua riqueza de detalhes.
Seu olho é um negro-universo
onde só reluz a estrela de uma lâmpada qualquer.
Obscuridade atraente, apaixonante.
É a aparição do seu olho de fantasma.
Quando via já era noite do dia.
A noite daquele olho já estava comigo
Desde o nascer do sol.
Noite que nunca amanhece, mas me incendeia.
Noite que por não amanhecer, acende.
Acende-me na sua pureza de passarinho.
A noite era o que mais me iluminava.
Queria que ele abrisse e fechasse a noite
De tanto prazer por mim causado.
Eu sou um eterno fã desse vulto que não me abandona.
Por isso tenho asma a cada aparição.
Seu cheiro profundo me mata de fôlego.
É muito sopro para pouca realidade.
Asmas e vultos são a minha vida por causa dele.
Símbolo de pureza tem o meu infante: asma de amor.