Chorei, chorarei, sempre choro
Chorei, chorarei, sempre choro
Num modo de ser – vão no escuro,
Impuro, desvivo e sem solo,
Sem colo; em cima do muro.
Sofri, sofrerei, sempre sofro
Num sopro mais leve que a brisa,
Na pista mais falta que o couro,
No jogo mais duro, que é a vida.
Andei, andarei, sempre ando,
Mas clamo um milagre de lábios
Tão claros como asas de anjo;
Esbanjo um sonhar de cem Lácios!
Eu fui, eu serei, sempre sendo
Imenso idiota sem rumo,
Mas juro: no fundo, aqui dentro,
Esquento a esperança de um mundo.
E o anjo que falo, que quero,
Que espero uma espera até a Ida
É a linda mulher que paquero
A sério, sem tê-la de minha.
Sem tê-la porque não mereço,
Sem senso porque aqueles lábios
Tão claros me fazem de um jeito
Que esqueço não posso beijá-los!
Ó pobre coitado que sou,
Que faço se tanto a querê-la
Me vejo mais sem merecê-la,
E sonho, e me doo, e me dou?
2/7/2017