Melanina
Contemple a nuvem zangada
Que encima a boca que beija
Os lábios cor de cereja
A negra voz que troveja
A graça que Deus me despeja
Qual é o vinil long-play
Que roda na vitrola dessa garganta, dessa goela?
Que produz essa melíflua eufonia
Melodia da pantera que dilacera
Nas obsidianas janelas
Das quais contemplas o mundo
Das Marianas Fossas deste profundo
Posso eu te acompanhar?
Ouvindo a banda dos passarinhos
Filarmônica em revoada
Cantando sua gentil sonata
Até nos deixarem sozinhos
Na serenata do silêncio
Na seresta das mãos que se apoiam
Na tocata de um protetor olhar
Deus gastou em você mais uma demão
Pois sabia que eu ia precisar
Do que na vida existe de belo, de justo e de bom
Galáxia no tronco da jabuticabeira
Seda Betuminosa