ESSE AMOR PAGÃO

Olha bem para esse anseio de encontrar, na realidade, o amor sutilmente absurdo que almejo mais que a satisfação do preenchimento criativo de mim mesmo; que anseia que se torne tangível o abstrato que é real; essa coisa que estaria no alcance do meu toque no rosto sereno daquela que é a colonizadora das terras cardíacas da minha vida; aquela que me invadiu, vinda do mar cansativo do mundo; aquela a quem eu, nativo inocente das terras de mim, ofereço com todo o desprendimento as riquezas e as cores que em meu mundo florescem, ainda com devoção, é a chamo de deusa.

Andando à beira-mar do meu ser diverso, me sento na areia e observo o mar do mundo, fixo no horizonte, canto. Esperando que possa ouvir, e vir, do mar...

Ela surge junto com sol, ambos me cegando e resplandecendo tudo! Esse fenômeno tem tanta sincronia que meu sorriso mais sincero me diz que você e o amanhecer são a mesma coisa! Tão correto que seria um equívoco pensar se é você quem traz o sol ou se é o sol que traz você...

Logo já não posso pensar em nada; logo toda a terra treme e é abalada; logo já não tenho fôlego e sinto seus pezinhos caminhando às margens de mim com sua sutileza suntuosa.

Sem dúvidas, não é você a parte de mim que mais gosto? Ou melhor, não é o sentimento, que a causa é você, a parte de mim que mais amo?!

Com essa convicção que abandonei a música e a poesia e saí, eufórico e sorrateiro, e roubei as flores das ninfas para você.

Pra que música e poesia quando se pode ter as flores?!

Com essa certeza entrei nos bosques e roubei a magia dos fáunos e te dei; pois, já que tens flores, já posso lhe falar de poesias e tocar flauta...

Que os deuses nos perdoem, a nós e a nossa dança pagã sob o olhar místico da lua. Os deuses e os mortais e até a própria lua estão invejosos desse amor. Invejosos eles, desse amor entre o poeta mortal e a própria filha de Atena; desejosos eles da vida do mortal que toca o infinito dela e desejosos da deusa fascinada pela minha divindade mortal.