Havia uma luz por trás da janela.
   Acredito que haja uma luz por trás de todas as janelas.
   E essa estava lá. E era como o nascer do riso,
   como o espelho d'água em alto esplendor.
   Era afável e suave, como só o fogo pode ser.

 
   À casa toda, ainda habitava um silêncio de noite profunda.
   As estrelas acendiam suas lanças ferozes.
   As crianças dormiam vagarosamente. As criaturas acasalavam
   a excessiva fome.

   E à minha existência, uma coisa milagrosa acontecia secretamente.
   Respirava e corria solta, com as mãos cheias de estrelas
   na minha paisagem interior.

 
   Era a luz. Trincada dum flavo impensável sobre os telhados do poema.
   Era a luz levitante e ascética de que são feitos os lírios e todas as coisas.
   Era a luz fendida no peito,
   com liras nos olhos, e liras atrás dos olhos - Ah eram olhos brutais !

 
   Ninguém nunca me viu mostrá-la à voz dos dias,
   porque era imensa. Como direi ? Absoluta.

   Todos sabiam-na como fonte, ventre, maná. Algures
   onde a terra começa e começa a vida.

 
   Hoje o amor revelou-se. Floriu. Canta e renasce sempre
   à parte mais límpida da alma.

   Hoje sei, indubitavelmente, que ele é a luz.







DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 30/05/2017
Código do texto: T6013553
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