Sob a Luz de Solaris
Ao acordar pela manhã deste sábado, me ocorrem as lembranças vagas; dos risos fáceis, das fotografias de cor azul no jardim do Éden.
Lembra- te das loucas simbioses que a amizade trouxe em tempos de outrora,
Lembra-te dos sonhos cinematográficos perdidos,
Lembra–te das conversas indomáveis sem pudor,
Lembra-te das noites de sabor menta - hortelã,
Lembro–me da pele mais fina que cobre teus dedos alumbrando teus dons.
Evapora do meu mundo tragicômico, mas ainda te procuro nos telejornais.
Ao abrir a janela de meu quarto a brisa leve da manhã toca suavemente a minha face fria,
E os meus lábios áridos.
Fechei os olhos, e o sol surgiu entre as nuvens, penetrando sua gloriosa luz, dentro de mim,
Sinto -a branca, leve, aquecer a ausência acolhida em mim.
Sou parte do universo cósmico, sou poeira estrelar,
Sou a tua rosa perdida do sarau, só te dei espinhos de sangue,
Sou Deus, sou tua feminilidade,
Sou tua poesia branca, sou tua linguagem,
Sou o teu anjo das trevas, que consome com Eva:
A maçã carnívora do pecado original
Sou substituível
Sou irreal.
Convida-me para tomar um chá ou curar as feridas à beira mar
Fui esquecido como Kafka; jogado para fora deste mundo
Agora, me torno a Lispector condenada a solidão pelos deuses insólitos.
Entre outros, cheios de vida, cheirando a lascívia à flor da pele,
E os vícios criam um vazio em volta.
O amor assusta e seduz toda humanidade,
Guardo minha bomba atômica a explodir em outra via láctea
Hoje, sozinho, abraço a arte,
Minha companheira feminina da eternidade
Me gozando de vida para sustentar a dor primeira
E depois de ter esta lírica, poética, escrita, lida e declinada,
Só resta uma única certeza: se um dia eu morrer de amor será com muitas gargalhadas.