Sob a Luz de Solaris

Ao acordar pela manhã deste sábado, me ocorrem as lembranças vagas; dos risos fáceis, das fotografias de cor azul no jardim do Éden.

Lembra- te das loucas simbioses que a amizade trouxe em tempos de outrora,

Lembra-te dos sonhos cinematográficos perdidos,

Lembra–te das conversas indomáveis sem pudor,

Lembra-te das noites de sabor menta - hortelã,

Lembro–me da pele mais fina que cobre teus dedos alumbrando teus dons.

Evapora do meu mundo tragicômico, mas ainda te procuro nos telejornais.

Ao abrir a janela de meu quarto a brisa leve da manhã toca suavemente a minha face fria,

E os meus lábios áridos.

Fechei os olhos, e o sol surgiu entre as nuvens, penetrando sua gloriosa luz, dentro de mim,

Sinto -a branca, leve, aquecer a ausência acolhida em mim.

Sou parte do universo cósmico, sou poeira estrelar,

Sou a tua rosa perdida do sarau, só te dei espinhos de sangue,

Sou Deus, sou tua feminilidade,

Sou tua poesia branca, sou tua linguagem,

Sou o teu anjo das trevas, que consome com Eva:

A maçã carnívora do pecado original

Sou substituível

Sou irreal.

Convida-me para tomar um chá ou curar as feridas à beira mar

Fui esquecido como Kafka; jogado para fora deste mundo

Agora, me torno a Lispector condenada a solidão pelos deuses insólitos.

Entre outros, cheios de vida, cheirando a lascívia à flor da pele,

E os vícios criam um vazio em volta.

O amor assusta e seduz toda humanidade,

Guardo minha bomba atômica a explodir em outra via láctea

Hoje, sozinho, abraço a arte,

Minha companheira feminina da eternidade

Me gozando de vida para sustentar a dor primeira

E depois de ter esta lírica, poética, escrita, lida e declinada,

Só resta uma única certeza: se um dia eu morrer de amor será com muitas gargalhadas.

Ricardo Neto de Oliveira Mota
Enviado por Ricardo Neto de Oliveira Mota em 27/05/2017
Reeditado em 23/10/2017
Código do texto: T6011105
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