LAMBENDO SUAS MARGENS
Nos segredos que encontraram guarida sob a sombra que o corpo faz ao avesso,
Como eclipse guarda o sol furtando qualquer brilho que pudesse alcançar a alma,
Rasguei-me feito véu de nuvens que se dissipam nas asas do vento,
As algemas de todas as vezes em que me equivoquei se desfizeram feito as espumas do mar,
Quando vi que as muralhas chamadas limites possuíam uma porta para saída,
Eu estava nu, mas não eram daquelas roupas as quais eu vestia,
Mas por largar os pesos que carregava nos ombros,
Como se a carga um dia tivesse se fantasiado de armadura.
Eu vi os embaraços um a um se desatar, fitas de cetim que formavam fios da memória cansada,
Se cruzavam para formar novos laços, ao amanhã um presente que finalmente apontava,
Eu vi a paz beirando as areias douradas da praia e as pegadas que se aproximavam de mim,
Traziam consigo a minha própria face, que um dia se ausentara para velar o que não havia falecido,
Em sua mirada eu vi reflexos de uma ponte para o outro lado,
Onde novamente as águas dançavam lambendo suas margens,
Segurando mais uma vez a confiança em meus punhos,
Com as rédeas seguras sem medo de qualquer descontrole.
Ao respirar o cheiro de sua pele, me senti abrigado em uma ilha,
Onde o sol não se deita, onde a luz não dorme, e os vendavais são constante calmaria,
Ultrapassei o tempo para repetidamente ver o menino sonhar,
Os espelhos já não possuíam olhares atemorizados,
E já não importava se haveria uma ou outras mil noites,
Se os dias renovavam suas esperanças,
Gratidão açucarada, felicidade incendiada,
Lábios que nos beijos exprimiam calado o seu amor.