A manhã chega ao poema,
beija a face suavemente como uma brisa recém chegada
Toma as mãos tranquilas dormindo ao silêncio,
abre os lírios interiores, escala a intimidade
E o sol chega ao poema, arfando,
com os olhos cheios de candeias
Tece as ramagens do sangue, alteia o coração
As mãos escorrem em ardor ou o ardor lavra às mãos
[ Agora o poema estremece-me, faz-me terçã e abstrata ]
À mesa, os utensílios flutuam : a toalha, a xícara, o bule, as facas
A chaleira ferve à chama, trinca a harmonia e a boca emudece,
mas são os meus pulsos que dilatam !
Ah... São todos loucos os objetos !
Insanos ardendo em seus agudos lugares !
E eu sorrio e penso nas coisas
e nelas sendo outras
E são sempre as mesmas :
São sempre essas coisas caiadas de nós
E o poema cresce, invencível,
abraçando tudo
O poema queima os espaços do mundo.