UMA OUTRA AUTÓPSIA

Fui a óbito.

O que se coseu em mim eu não controlei.

Senti o tempo fincar-me na agulha

e minha vida pareceu o nada,

um pesponto entre um nascimento e a morte,

o remate de uma necropsia,

a perder a causa exata daquele falecimento

e achar corredores,

que me recolheram,

guardaram-me para eu constatar,

apenas o amor era o bem precioso.

O amor entrou pelas cavidades do meu rosto,

gavetas

e descobriu o casulo que fui,

invólucro suspenso na árvore da percepção.

O amor soltou-me os ossos.

E o bicho da seda

que me urdia o espírito,

nem era bicho.

O amor preparou-me

para um esgarçamento sem medidas,

um desfiamento de tudo aquilo que eu chamava

mundo.

* Homenagem ao meu pai José Everardo Fontenelle de Araujo

Do livro "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

E-mail do autor: phcfontenelle@gmail.com

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 09/05/2017
Reeditado em 09/05/2017
Código do texto: T5994181
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