Será sempre parcial
Uma parte de mim
é como a nuvem
em penumbra ao relento
e carrega até o fim
raios que vencem
torrentes de pensamento.
Tenho uma margem
que é multidão pungente
e canta o canto decente
de sangue, suor e guerra,
A outra, introspecta,
evapora e cai na terra
como prosa predileta
a entreter-me a pulsação,
rumo, assim, sem direção,
a vida em outra vida
e o fim de uma delas
é o que aguardo, otimista,
numa ilusão desaparecida
em um vendaval de sequelas,
talvez não assista,
queira Deus, às querelas
do eterno protelar,
mas que, se vierem, em salutar
e trôpego caminhar
saiba que não há
mais fibrose a vedar
tamanhas cicatrizes,
onde estavam unidas
todas as despedidas
chegaram horas felizes
elos, últimos, grudados
nos chistes,nas pazes
que fizemos, sedados,
ao som e comando de vozes
e jamais vu sensato,
pendurei meu recato,
rebelde, a declarar,
precoce, talvez, sem olhar,
sem pensar, pulsando ao ar
ondas mentais de amor
e desamarro, sem dor
os nós de minha garganta
a corar sua altivez
que equilibra e quebranta
meu id em voz e vez
castrante e empática
como a ida simbólica
de meu mundo a outro mundo,
em esconderijo profundo
acanhado e errante
levarei seu semblante
no bolso de minha alma
acalenta e acalma
com sua melodia
ou mesmo com açoite
o caos de meu dia
a frieza da minha noite!