DEVO DIZER QUE AMO?

Devo, como os outros,
falar de amor
feito uma caixinha de música?
Devo, para ser aceito,
ser assim do jeito
que os outros são?

Sinto muito.
Não dá,
não é possível.
Canto uma tarde outra.
Sinto amor e sinto raiva.
Vejo o sol brilhando
e caminho pela noite escura.
Meu mundo
outras cores tem.

Se amo, escancaro,
porém mascaro
outros desejos.
Digo inocentemente
eu te amo,
mas saibam todos
que, às vezes,
a carne fala e fende
a minha pouca esperança.

Desejo.
E desejo muito.
E meio sem pensar me atiro
do alto do prédio
ao meio do fogo
e queimo
em honra a esse sentir,
tão único
e tão comum.

A carne entorpece o espírito.
Mas, ao fim da faina,
um fascínio de viver me alucina
e abro os meus braços
e abraço
e peço perdão
à dona do corpo
que me desmontou.

Amo.
Mas não é mais na inocência.