Embriago-me
O dia em seu cume lhe convida,
Em seus braços entorno todo querer,
Tudo vira passado, escárnio, poeira.
Toda dor na partida,
Rastro de lágrimas,
Trilha forçada, apatia.
Caminho só,
Deságuo toda a mágoa nos fatos,
Faço do texto o ensaio,
Esqueço nosso viver.
No primeiro gole lhe perco,
Bebo seus lábios, seu corpo, suas mentiras.
As lágrimas me encharcam,
Fico ébria em desprazer,
Aprisionada ao seu corpo,
Espero o que há de sóbrio para lhe querer,
E me afasto.
A fumaça nos neblina,
Todos os descompassos em seus passos,
As palavras amargam-se em mim,
Embriago-me de saudades.
Toda a sede foi bebida,
Toda a fome, inanecida,
Todas as horas desabam sobre mim.
Toda amargura em seu ser,
Lágrimas fecham as feridas,
Tento em vão lhe perder.
Presa ao seu olhar reticente,
Enquadro-me no seu vazio,
E sigo indiferente,
Até vagar o nós,
E cavarmos o abismo.