À Musa, com amor...
Ah, se tu pudesses saber
Que na pupila morta desse olho triste
Bem lá no fundo, em esconderijo
Habita um pouco de você
Tu es a lágrima que não ouso chorar
Que abafo em meu peito raso
Taciturnamente, prestes a romper
Como uma bomba não letal
A ferrugem que queima o metal
Até partir e apodrecer
Tu es a lança que corta minha alma
Atravessando cada órgão vital
Sangrando, sangrando com calma
Como o caçador, avidamente, mata o animal
Tu tens poder que desconheces, amada minha
Se queres tu, até o céu escurece e se acanha
Em louvor a sua beleza quase divinal
A lua brilha escondida, para que mais resplandeça
Como diadema, sua graça virginal
Sob os seus pés a relva se curva
Ao afago de sua pele dourada
Até a fera sua ira abranda
Ao suave frescor de sua voz aveludada
Amada minha a quem ousar, não confesso
Sentimento que por ti, embruteço
Em honra a esse pobre que sofre
Guarda em ti meu derradeiro verso