O FRÁGIL SONHO
Nos meus sonhos, eu tropeço,
sei que te peço a euforia,
te prometo o dia e te dou a noite,
a ardência do açoite, a calma do vento,
o frágil pensamento, a voz calada,
a faca afiada, a carne que se dilacera,
o sonho, a quimera, o tempo desperdiçado,
tudo jogado, a manhã que não chega,
o braço que aconchega, a peito que apóia,
o laço e a tipóia, o vento no rosto,
a agonia, o desgosto, tudo impera,
o medo supera, a ansiedade facilita,
a manhã mais bonita, o sol ardendo,
e mesmo não podendo, vasculho a esmo,
e sou eu mesmo, sendo outro alguém,
desejo apenas o bem, recebo o mal,
temo a grande final, quando ainda principio,
nesse tolo rodopio, tombo com facilidade,
tendo por maldade, a bondade nua e crua,
sendo aparado pela tua mão acalentadora,
tu és pecadora e eu sou o verme das causas
incuráveis e das pausas somos criadores
que temem rumores e somos criaturas,
alheias pelas ruas, somos avenidas,
e perdidas as fantasias, perecemos ao relento,
ao sabor do vento que me parece estranho.
2.003