Sonhei com você essa noite
No sonho
Sua voz soava como um açoite
E minha pele
Marcada em carne viva
Exposta
Todas as feridas
Que um dia você me deixou.
Estremeci
Ao ver teus olhos de carmim
e via
saltando sangue e cordas
e sapos
baratas e ratos
saíam todos de mim
e tudo aquilo me sufocava
em minha frente você estava
e me perguntava
coisas sem sentido:
quanto tempo você vai demorar?
Ou até:
Por que não percebeu que eu estava fingindo?
E depois você caminhava
E eu por mais que tentasse
Nunca te alcançava.
Então você dobrou uma rua
E meu peito
Voltou a se fechar
Você sorrindo disse-me:
É aqui que eu vou ficar.
Então entrou em um lugar
Não era uma casa
Mas se fosse
Não saberia identificar
Era um desejo
Louco
E o que eu vejo
A porta permanecia aberta
Para mim entrar.
Então tive de acordar.
E quando acordei senti toda
A dor que sentia
Enquanto estava a sonhar.
Coitados
Nós somos pobres coitados
Eu e os demais que por aí
Escrevem ou cantam
Ou falam de amor.
Se querem dormir não dormem
E quando conseguem
Sonham
E quando acordam
Tudo acabou.
Mas desde o início
Tudo acabou.
Do livro Poemas da Madrugada
link do livro:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5971985