Meus dias

Todo dia quando acordo eu te vejo do meu lado

Meio tonta, sonolenta, como quem nem adormeceu

Olho de novo, disfarçada, e sinto um medo danado

Que a minha mente, sempre tão lúcida, endoideceu

Deixo o café esfriando e acendo um outro cigarro

Não quero o pão e me alimento dessa tua miragem

Me banho, me troco, subo no salto, pego meu carro

E tenho a impressão de que você está ali, na garagem

Sigo o rumo de sempre, sem expectativas ou alegria

Sei das duras decisões e do meu punho que comanda

Mas comigo mesma vou digladiando e querendo folia

- Que se dane o trabalho e a minha alma se manda -

Bastava virar à esquerda e pegar um pequeno atalho

Cair na marginal, pisar fundo, afrontar aos impostos

Sentir o vento e reconhecer, no meu rosto, o talho

- Da velha e antiga Diaba, fazendo seus gostos -

Atravessar a cidade e farejar o teu cheiro

Te ver, na Matriz, sentado ao sol do seu dia

Te abraçar, te beijar, te absorver todo, inteiro

E descobrir que, ainda, sou a sua poesia.

São Paulo, 10 de Novembro de 2005

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