Carta de amor

Ridícula igual todas as outras

Esdrúxula igual Álvaro um dia escreveu

É ridícula por ser de amor

E digna de quem já sofreu

Escrevo mesmo assim

Sem vergonha de ser patético

Cético a ponto de acreditar

E acreditando a ponto de ser cético

Você me fez voar mais alto do que Dumont

E escrever melhor que Drummond

Eu sei que vou te amar em cada despedida

Mais do que a música do Tom

Ave de rapina, sofisticada como anis

Minguante como 1/3 da lua

Depois de 14 beijos, eu pedi bis

E lembrei ¼ de você nua

Estudei as três do romantismo

Para chegar à fase que estou

Inexplicável e surreal como Ismália

Que por um sonho se jogou

Vivo a “Lira dos Vinte Anos”

Cantando a “Canção do exílio”

Boêmio urbano

Postiço como um cílio

Descartável igual flecha

Fiz cego ver, milagre de um cupido

Dancei com o seu cabelo

E te ganhei com uma fala mansa ao pé do ouvido

Prometi a mim mesmo

Que não ia escrever uma carta de amor

Mas escrevi, não só para depor

Mas para não ser

Ridículo