O MAIOR TESOURO

Podem os clamores dos ventos anunciarem mudanças em um velho mundo,

E a claridade do sol se inclinar até ti para iluminar os seus passos,

Podem os pés caminharem por um tapete de pétalas e sentir seu perfume,

Uma constelação enfeitar sua noite particular,

Podem as chuvas regar todas as suas sedes,

E a brisa refrescar todos as suas febres,

Pode um homem voltar da guerra sem feridas,

E os anciãos terem tantas vitorias quanto os seus fios de cabelos brancos.

Mas o que isso adiantaria a um homem,

Se no fim de tudo não tocasse um coração,

Tudo seria em vão...

O que seria de um homem sem sentir a conexão de duas almas,

Que faz sentir senhor do tempo na constância de um abraço,

Sem se importar com o que houve no passado, como é o presente ou será no futuro,

Tocando uma nota que a teoria não ensinou,

Mergulhando na genuína beleza da vulnerabilidade de uma entrega, e sem reservas se entregar,

Sentindo-se protegido pelo aveludado doce de uma alegria que não se pode explicar,

Ultrapassando todos os limites do compreensível,

E entender que nada será em vão se finalmente tocar um coração.

E se sentir um homem completo,

Quando finalmente tocar um coração,

Nada seria em vão...

E desejar a cada manhã o doce pecado de um beijo,

Como a maçã mordida no paraíso,

Aquecendo as extremidades do corpo,

Como sol de meio dia no céu azul do verão,

Decifrando cada caminho por onde correm as veias,

Liberando a volúpia como a intensidade de um mar de ressaca,

Sem controlar os espasmos frutos dos deleites,

Para que ao fim não falte mais nada, pois o maior tesouro conquistou.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 30/03/2017
Código do texto: T5956749
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