OS POETAS E O AMOR

Nunca se conheceu um poeta que estampou em papeis as cores do amor,

Porque o expressar caminha com o racional, e do coração nem tudo se pode decifrar,

Aquilo que não se atinge na intensidade dos olhos,

Os sentidos explicam à medida em que os lábios se encontram,

Quem poderá desenhar os sonhos do coração, o cofre dos desejos escondidos,

Não se pode raciocinar, não se pode explicar aquilo que inflama na alma,

O papel aceitaria as teorias de um rio molhado,

Mas isso não substituiria aquele que desnudo se joga a mergulhar,

O objeto cognoscível é a palavra amor,

Que se escreve com tintas frias sua definição,

Mas seu sentido precisa de um fogo que quanto mais queima, mais se quer queimar,

Alguns poetas o descreveu como o cheiro da chuva na terra molhada,

Como o aroma das flores nos caminhos da primavera,

Alguns poetas o descreveu como noite estrelada no verão,

Como pôr do sol à beira da praia,

Alguns poetas o descreveu como calmaria após longas tempestades,

Como a brisa fresca que agrada a pele em dias quentes,

E mesmo que tenham chegado perto, se limitaram ao expressar,

Aquilo que é sentido após um abraço percebendo a cheiro do abraçado,

Que faz o coração derreter ao sentir o calor da outra pele,

E faz o mundo sumir na fulgura de um beijo,

Aquilo que furta o chão após um carinho,

Que se pode dizer na sutileza do silêncio,

E que faz o coração acelerar,

Os poetas podem com beleza sobre o amor cantar,

Mas o amor, ah o amor se entende na entrega, se entende no amar.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 21/03/2017
Código do texto: T5948238
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