Devaneios típicos sobre o amor em uma aula de exatas
Assim como Tyndall fez o arame passar pelo gelo sem quebrá-lo,
passam por mim e estou aqui
Eu, que a 1, 10, 20, 1000 atm sou sólido e solidifico.
E permaneço indo e voltando ao 0K
Eu, que até derreto, quando sou a única culpada.
O ferro derrete a 1538ºC e você não sabia disso.
Quase ninguém sabe disso.
Me perdoe se eu não te vejo poesia
Tanto quanto vejo o gráfico de mudança de fases.
Me perdoe também se te vejo poesia e não a escrevi ainda.
Ou escrevi de um jeito que você não pode ler.
Eu, que aumento a pressão e temperatura ao infinito,
Para pouco tempo depois estabilizar novamente.
Eu nunca gostei de física até descobrir o calor.
O calor que segue o fluxo,
O calor cuja convecção é a troca
Onde o mais quente perde pro mais frio
Lembre-se que o calor é tudo,
- não espere demais, não espere errado -
E que essa perda é uma vitória.
O calor que é movimento e que move a vida.
E que se torna meu maior argumento
Pra comprovar o que, pra mim, sempre foi fato
De que o que nos mantém vivos é a troca
E o que mantém o vivo vivo é o verbo e toda ação originada nele.
- O que não dizemos, ou sim, e o que fazemos. -
Que nos aqueçamos e nos percamos cada dia.
(Eu me perco, poucos ganham.
Todos esperam que me perca por outros caminhos.
Eu que sigo a trilha e deixo migalhas de pão
me encontre.)
Eu, que posso ser gás, e ser livre
Eu que peço desculpas por pressão e temperatura tão altas serem necessárias para minha sublimação
Ninguém é tão exceção quanto a água.
Isso, eu, é indiferente,
que nos esforçemos todo dia para sermos quentes.
Sou, mas esperam que eu me derreta
Quando tudo o que sei
É fundir aos outros
E me fundir ao mundo.
Não espere, eu peço desculpas.
A ação, a troca, o fluxo, tudo o que
Você não vê
Tudo o que dizem não existir/resistr/residir em mim
É, na verdade, a sobrevivência no meu ponto triplo.