UM MIMO
Pés,
Em que eternidade tecem teus lábios vermelhos cor de pitanga madura?
Pés,
Digam-me onde estão teus olhos?
Em quais caixas de frutas, rosas ou canteiros
Estão teus ouvidos misteriosos?
Pés,
Onde estão teus anos,
Tua juventude; tua idade madura; tua pele de porcelana;
Tua flor da idade com frescor dos primeiros dias?
Pés,
Digam-me onde vais; de onde vens;
Em quais poemas tua alma guarda teus sonhos;
Em que distância presente está o teu corpo; os teus dedos; o teu queixo; teu maxilar?
Pés,
Tu me diz tudo o que se vê do essencial;
Diz da liberdade longe do cárcere de pensar
Pés,
Me diz da tua cintura;
dos teus seios; das tuas coxas; do teu sexo; do teu perfume de inebriar;
Em que encontro eu encontro o encontro das tuas águas; da tua terra ou a imensidão do teu céu; onde mais eu posso te encontrar?
Pés,
Eu pago a pena da guilhotina;
Mas não emurcheça a fantasia do meu sonhar
Pés,
Eu amo teus lábios vermelhos, mas te peço;
teça-me da unha ao calcanhar;
Não priva-me dos teus pés;
deixa-me amar-te em meu pensar
Pés,
teu rosto imagino;
tua boca eu amo;
teu pensamento enlouquece-me;
teu coração é meu dono;
mas são os teus pés que estão a me torturar!
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Os teus pés
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
Pablo Neruda in_________ Os Versos do Capitão.
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Thank you!