QUANDO MORREU O AMOR...

Quando, entre nós, morreu o amor,

naquela noite, não houve ruído

do vento nas folhas do canavial.

Não houve luar, nem estrelas.

Na realidade, não existiu nem noite.

Simplesmente um tempo insano,

delirante entre dois instantes distintos.

Um, antes do finar-se daquele amor.

Outro, meio sinistro, surgido após

o findar-se do nosso amor.

Quando, entre nós, morreu o amor,

entre os homens da Vila,

houve algazarra, sons de assovio

e soar de tamborins.

comemoravam o principiar do sofrer

de duas novas criaturas,

antes tão venturosas e vibrantes.

Quando, entre nós, morreu o amor,

Ficamos quase mortos,

como o amor que se ultimou;

igual às folhas do canavial,

sem saber por onde se pender,

sem saber porque se dobrar.

Quando, entre nós, morreu o amor,

morreram em nós todos os sonhos.

Emudeceram os ruídos e as vibrações,

ficamos iguais a copos descartáveis,

vazios e sem uso;

... Canaviais que nas noites não sentem

o balançar dos ventos nas folhagens.

Continuam apenas vivos, mas,

vão seguindo sem o prazer da vida.