a todos os envolvidos

agradecimentos para aqueles que
conseguiram destruir
a visão que uma adolescente tinha
a respeito da vida. uma inocência
que se despediu precocemente em
mil pedaços, como um espelho que
se quebra
quando encontra o chão
num ataque de raiva, de ódio,
de rebeldia, após uma noite
envolvida na imundície da
cidade que ela tanto carrega
no peito, e que tentaram
esconder de seus olhos.
agradecimentos para aqueles que
conseguiram impedir o florescer
dos sonhos de uma adolescente.
seus gritos de fúria, isolados em
um caderno escolar que ela usa
de diário. e bufadas, respirações
ofegantes, o cansaço de uma
corrida que ela nem imagina
quantos quilômetros ainda faltam.
a loucura de um
pássaro engaiolado. ele, que
canta para lembrar de sua
sanidade, e ela, que escreve,
e ela, que dança ao som de suas
músicas favoritas quando ninguém
está por perto.
frases e versos, rabiscos e
desenhos,
tudo feito
sutilmente
para que ninguém, além dela,
possa entender.
criando assim um idioma.
lábios que sua boca tocaram,
fumaças que suas narinas
inalaram. peles que suas mãos
sentiram. o medo de altura
ao ter se deparado tão
perto do sol.
seu fogo ainda é novo, ainda
queima forte, o que faz
todos se preocuparem e
quererem aprisionar como um
troféu. são tolos os que acreditam
que possam fazer isso.
não sabem com o que lidam,
e se enganam.
às vezes esqueço que o mundo
é feito de gente assim.
e ela me fez esquecer
por dias
dessa gente
que precisa se enganar, manter
as aparências, a feliz tranquilidade
hospedeira dos anos cinquenta.
agradecimentos para aqueles que
conseguiram acorrentar
a confiança de uma adolescente.
porque tudo o que ela quis foi
conhecer. foi sentir no corpo, ouvir
com a alma, ter o coração
mergulhado nas próprias
decisões. e ninguém nunca
teve com ela uma simples
conversa. ninguém nunca sequer
a ouviu,
mas responderam suas perguntas
com dúvidas que ela resolveu
acabar sem qualquer ajuda ao
cair da noite. só ela sabe o que
passou, o que passa, e o que
quer para si mesma.
uma viagem à lua, sem
passagem de volta. sem
mochila, sem decepção.

e eu vejo suas algemas, vejo
seus pulsos e tornozelos
chorarem as dores que ela tenta
esconder em seus olhos
esverdeados.
e isso tudo me lembra
de um filme
que assisti
há quatro anos.
de uma vida sem protagonismo.
de escolhas feitas no medo, com
orgulhos que deixaram feridas
abertas para todo o tipo de veneno
entrar. soco nenhum dói. chute
nenhum machuca. porque a dor
da perda é constante.
é mais cruel do que as
palavras fazem parecer.

e isso tudo me lembra
de versos
que escrevi há quatro
anos, cujo medo em lê-los
me fez queimá-los para
conseguir seguir adiante.

mas os pedaços ainda
estão comigo.
tive que guardá-los,
logo eu.
porque é assim
que eu a
mantenho
viva.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 07/03/2017
Reeditado em 10/03/2017
Código do texto: T5933724
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