Água e Sal

Um homem velho

Voltou para a casa velha

Onde morava com sua velha esposa

E encontrou-a triste

Mirando-se no espelho

Pensando à toa

"Tudo bem querida?"

Ele perguntou

E ela respondeu

"Olho para a ruína, para o naufrágio daquela que você amou"

"Olha as rugas que me rasgam a pele

As olheiras que me mancham os olhos

O grisalho dos meus cabelos

A fragilidade dos meus ossos"

O que eu era se foi

Anos atrás ficou

Minha vida, meu viço

Só as marcas de quem me roubou

Permanecem"

"Meu amor"

Ele interrompeu

"Esqueceu de quem te adora?

Esqueceu de quem sou eu?"

"Amava-te, amei

Amo e amarei"

Ele disse se achegando de mansinho

"Eu te amava quando jovem

Na praça, no cinema

Nas festas e novenas

Eu te amei todos os dias

De alegria em alegria

De problema em problema"

"Amo teus cabelos,

Que por mim embranqueceram

Amo tua pele

E cada ruga que vi vinca-la"

"Amo teus braços cansados

Que abraçam quando chego em casa"

"Gastou sua vida por mim

Como as lágrimas que chorou

Feitas de água e sal

A água já secou, ficou o sal e seu sabor"

"Então vem"

Ela disse

"E prova dos lábios meus

As lágrimas que hoje choro

De alegria ao lado teu"

João Antonio Heinisch
Enviado por João Antonio Heinisch em 03/03/2017
Reeditado em 12/03/2017
Código do texto: T5929204
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