Cândida pele da alta realeza,
Cândida pele da alta realeza,
Que fazes para manter-te assim, bela?
Donde, afinal, vem tamanha riqueza
Tão exclusiva de ti, ó donzela?
Olhei por flores de sacros jardins
Só à procura de uma tão bonita,
Mas nem as verdes nem as carmesins
Foram lindas como és tu, ó querida.
Cândida pele mulheril e virgem,
Donde vem tua beleza escaldante?
Vi-te, já sofri profunda vertigem,
És tu deveras poema ambulante.
Fui às docerias pelo mais doce
Achei até iguaria francesa,
Mas esses teus lábios, fosse o que fosse,
Nada os passava em sabor ou beleza.
Cândida pele que os cinco sentidos
Atiça apenas por ser, existir,
Onde estão teus segredos escondidos,
Donde teu feitiço está a sair?
Ordinária humana não podes ser,
Não me deixando do jeito que deixas,
Portanto, segredo sei que há de haver,
Uma poção pra que comigo mexas!
Cândida pele, ó sandia pele,
Fui ao museu buscar o mais lendário,
Mas nem lá achei o que se revele
Ser mais capaz de me fazer otário.
Se nem Cleópatra te superou,
Quem nesta vida te superará?
Nem Monalisa em mim despertou
O que despertou teu enfeitiçar!
Cândida pele que um tolo venera,
És tu produto de feitiçaria?
Fui ver a melhor bruxa desta era
Perguntar-lhe se isso que seria.
Só eu mostrar tua foto, contudo,
A bruxa ajoelhou-se na hora,
"Não pode haver tal mulher de veludo,
Imagem falsa! Estás a fazer troça!"
Cândida pele à qual feliz sirvo,
Nunca descobrirei o teu segredo,
Mas jamais, juro, me senti tão vivo
Quanto ao dar-me a ti por inteiro.
Beijo teus pés em meio a choro e lágrimas,
Não ouso olhar a rainha na face,
Tu és cura e causa de distanásias,
Fada à qual eu imploro por enlace.
3/3/2017