HÁ MAR
Amar a que?
A brisa, o vento, o ar?
A flor, o perfume, o luar?
Ou a escuridão da noite
sobre os rasgos do açoite?
Há mar revolto e frio,
dentro do coração sombrio,
que se afoga nas águas
densas de profundas mágoas.
A razão e a diferença
que amar nos leva ao mar,
certamente é a impaciência
que nos leva a fracassar.
Tudo depende do tempo
que vagaroso e lento,
deixa-nos em tormentas
que sobre as pedras se arrebentam.
Amar a que?
Amar a Roma, a rama?
Amar o mar, a fama?
Amar o amor, a dor?
O calor do corpo, o suor?
O sal da lágrima fria?
A solidão sem sua companhia?
O tempo tudo acaba, tudo destrói.
Gasta a roxa, o ferro, o aço.
Derruba pirâmides e colunas de mármore.
Afrouxa os mais apertados laços.
Cria asas que nos leva para frente.
Destrói o novo, desmascara a gente.
Enfatilha os desejos, mostra-nos os defeitos.
Ai já não há mar, há rio seco e estreito.
Tudo estará desgastado pelo tempo.
E sem mais nenhum sentimento,
o mesmo amor
que um dia foi mar
por amar de mais,
será deserto a céu aberto,
por amar de menos.
Nova Serrana (MG), 27 de abril de 2008.