HÁ MAR

Amar a que?

A brisa, o vento, o ar?

A flor, o perfume, o luar?

Ou a escuridão da noite

sobre os rasgos do açoite?

Há mar revolto e frio,

dentro do coração sombrio,

que se afoga nas águas

densas de profundas mágoas.

A razão e a diferença

que amar nos leva ao mar,

certamente é a impaciência

que nos leva a fracassar.

Tudo depende do tempo

que vagaroso e lento,

deixa-nos em tormentas

que sobre as pedras se arrebentam.

Amar a que?

Amar a Roma, a rama?

Amar o mar, a fama?

Amar o amor, a dor?

O calor do corpo, o suor?

O sal da lágrima fria?

A solidão sem sua companhia?

O tempo tudo acaba, tudo destrói.

Gasta a roxa, o ferro, o aço.

Derruba pirâmides e colunas de mármore.

Afrouxa os mais apertados laços.

Cria asas que nos leva para frente.

Destrói o novo, desmascara a gente.

Enfatilha os desejos, mostra-nos os defeitos.

Ai já não há mar, há rio seco e estreito.

Tudo estará desgastado pelo tempo.

E sem mais nenhum sentimento,

o mesmo amor

que um dia foi mar

por amar de mais,

será deserto a céu aberto,

por amar de menos.

Nova Serrana (MG), 27 de abril de 2008.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 23/02/2017
Código do texto: T5921577
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