INVEJA
Conheço bem a dor de amar,
De gostar de quem não pode ser minha,
É uma inveja revestida de bons argumentos,
Mas é inveja viva! pulsante! borbulhante...
É padecer no paraíso dos poetas,
Mesas fartas, lindas ninfas,
Almofadas aconchegantes,
Rios cristalinos, fontes de leite e mel banhando seus pés...
Tão longe,
Tão perto,
Mas não é seu,
Não poderá tê-los jamais...
É ter correndo nas veias,
Os rios de larva que banham as margens tristonhas do Estíge,
Com o barqueiro Caronte, a debochar de você,
É ter o coração congelado,
Por mais que se tente aquecer,
E a boca seca, por mais que se tente saciar a sede...
A dor de gostar de quem não pode ser sua,
De cobiçar a mulher do próximo,
É o mesmo que tentar ler o tetragrama do nome de Deus,
E se consegui-lo, ser devorado pelo fogo sagrado de Deus,
Que não podemos suportar,
Nem jamais compreender...
Gostar de alguém que não pode ser nosso,
É tentar achar a exata medida do "Pi",
Desejar a mulher do próximo é pecado,
Horrível, canalha, sujo,
Adjetivos não faltam...
Mas, é humano,
E eu, sou humano,
Imagem e semelhança de Deus...