Jurema
Os teus pelinhos macios
ainda sinto nos dedos.
Os meus ouvidos vadios
guardam os mesmos segredos.
O teu peitinho durinho
cabe-me inteiro na mão,
e restam bem coladinhos
os nossos lábios de então.
Uma altiva cachoeira
foi discreta testemunha
das nossas tardes na beira
sem termos culpa nenhuma.
Noviços da adolescência,
deixavas entrar na tua
toda a minha efervescência
num leito de pedra nua.
Minhas lembranças são tantas,
que os passarinhos, Jurema,
parece que ainda cantam
a canção do nosso tema.
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Na ilustração, Mulher com Chapéu de Di Cavalcanti (Rio de Janeiro – 1897-1976).