Jurema

 

Os teus pelinhos macios

ainda sinto nos dedos.

Os meus ouvidos vadios

guardam os mesmos segredos.

 

O teu peitinho durinho

cabe-me inteiro na mão,

e restam bem coladinhos

os nossos lábios de então.

 

Uma altiva cachoeira

foi discreta testemunha

das nossas tardes na beira

sem termos culpa nenhuma.

 

Noviços da adolescência,

deixavas entrar na tua

toda a minha efervescência

num leito de pedra nua.

 

Minhas lembranças são tantas,

que os passarinhos, Jurema,

parece que ainda cantam

a canção do nosso tema.

 

 

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Na ilustração, Mulher com Chapéu de Di Cavalcanti (Rio de Janeiro – 1897-1976).

João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 03/02/2017
Reeditado em 04/12/2023
Código do texto: T5901807
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