Sunday Morning

Você realmente acha que é fácil? Acha que é divertido o que eu faço? Ainda tem coragem de jogar na minha cara que minha vida é simples e que eu não sofro. Mais saiba que é muito mais difícil do que possa imaginar. Você não sabe como é estar cada dia com uma pessoa, ser tratada como qualquer coisa. Não terem a mínima consideração nem de saber seu nome. Ser usada apenas para satisfazer desejos escabrosos, vontades obscenas. Apenas algo que se usa quando está de saco cheio do mundo, do trabalho, da esposa. Mas o que você não imagina, e que nem passa pela sua mente, são os meus sentimentos. A dor que eu sinto. A dor de amar e saber-se amada mas ter que ignorar isso. Não entende como sofro cada vez que sinto lábios contra os meus e pensando ser os seus vou me entregando, deixando o desejo fluir, deixando as sensações dominarem, deixando o coração bater mais forte, até que percebo que as mãos que me tocam não são as suas, os olhos que me olham não são os seus, e o calor que me evolve não vem de seu corpo. E ai vem a vontade de chorar. No entanto apenas uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, já que sou como uma atriz, e que no momento em que estou no palco dos lençóis tenho que prosseguir com o roteiro. Largar tudo isso? Pra você é fácil dizer. Você tem seu empreguinho de merda. Sua vidinha de bosta. Mas tem dinheiro que dure até o fim do mês, tem comida quente no fogão quando chega, tem companhias para ir ao cinema nos sábados e pode passear a vontade pelas ruas sem que te olhem feio. Para alguns a vida é um parque de diversões, cheio de balões, doces e brinquedos, mas para outros ela é dura, difícil e amarga. Mas o que você sabe sobre isso? Você é só um imaturo que acha que sabe sobre o mundo e que sai aos domingos para passear com seu vira-lata na praça. E eu sou só uma senhora que esbarrou em você certo Sunday Morning.