ESQUECER PARA LEMBRAR
Lentamente esqueço
dos fatos de ontem,
das horas em que, juntos,
descobríamos as cores.
Esqueço o teu sorriso,
a tua face, o teu cheiro.
Esqueço paulatinamente
as frases ditas, os gestos
e a entonação de tua voz
ao falar de teu sentir.
Esqueço corajosamente,
pois me dói bastante
acreditar que aqueles
eram os dias mais luminosos.
Esqueço, pois,
no espaço vazio, que há de ficar,
reconstruirei uma vida,
a vida possível
em tua ausência.
Mas há o perigo de,
a qualquer momento,
tudo o que esqueci voltar
como um vagalhão
e me afogar nas lágrimas
que agora tento sufocar.
Esqueço para lembrar.
Mas que não seja tão cortante
rever teu rosto na memória.