O TEMPO

Em um dado momento percebi,
Quando num instante, em milésimo de segundo, senti
Na expressão daquela mulher, que tão intensamente em amor vivi,
Que em nenhum dos momentos no passado, até ali,
Não tinha notado, nunca vi
Entre os meus um bem maior que pertencia a mim,
E soubesse dele bem usar o meu amor teria a alegria sem fim.

Foi naquele instante em que o meu amor,
Pela sua voz, antes tão doce,
Naquele momento temperada em lágrimas,
Transmitindo o seu grande afeto mesclado de temor,
Levava-me, percebia, por uma estrada por mim não caminhada,
Deixando minha’alma angustiada,
Minha mente embaralhada,
Meus pensamentos no vazio, no nada,
E a minha consciência embaçada.

Meu amor revelava uma intensa contradição,
Entre o querer ir e ficar,
E de mim esperando uma solução,
Estendendo as suas mãos e sinais em mim a fincar
E eu em estado de grande confusão,
Anestesiado por impotência e sem pensar, sem falar,
Sem estender ao meu amor as minhas mãos,
Para nelas se sustentar e em mim se apoiar e ficar.

Alternativa não lhe ficou, e veio a inesperada expressão
Pedindo-me um tempo para lhe dar.
-Tinha eu esse bem tempo entre os meus pertences?!
Tendo-o, onde o guardei, como encontrar?
-Encontre-o, entregue-o a esse amor, não penses.
-Mas entregando-o não ficaria aprisionado aqui
Enquanto o amor vai seguir?
-Não pensa assim, ao amor tudo.
Se errou com o amor, entregue-o o mundo,
Reveja o passado, encontre o tempo não bem usado,
Reconcilie-se com seus pecados.

O tempo foi... o amor pode ir...
Encontrar o tempo lá detrás, jamais.
Alcançar o amor que seguiu, porque feriu: dúvidas mil...

Portanto, se ainda possui um pouco tempo,
E neste tempo pouco contiver espaço,
Desfaz todo esse contratempo,
Pegue o amor, dê nele um abraço,
Coloque esse tempo inteiramente à reconquista,
Elimine deste grande amor todas as contradições,
Impeça que vá, peça que fique,
E aí entregando não o tempo pedido, mas o coração,
Tendo se perdoado, da sua mulher o perdão conquiste,
E aí, mais uma vez juntos, morando um no outro,
É certo que o amor vivifique.

 
Ilustrador: Ayam Ubráis Barco
Ismeraldo Pereira
Enviado por Ismeraldo Pereira em 28/01/2017
Reeditado em 05/01/2018
Código do texto: T5895431
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.